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Câncer de Colo Uterino: Fisiopatologia

 Conhecendo o Colo Uterino

O colo uterino é dividida em duas partes: Ectocérvice (parte externa do colo do útero) e Endocérvice (parte interna do colo uterino). Histologicamente essas duas partes possuem estruturas diferentes. A ectocérvice (epitélio escamoso) é composta por células basais (células com alta atividade mitótica), células parabasais (células um pouco mais maduras que as células basais e também com alta atividade celular), células intermediárias (com pouca atividade celular) e células superficiais (núcleos bem pequenos e com pouquíssima atividade celular). As duas últimas camadas (intermediárias e superficiais) são ricas em glicogênio o que mostra uma maturação celular. A endocérvice (epitélio colunar simples) é bem mais simples, tem uma camada de células endocervicais que são substituídas periodicamente pelas células de reservas que localiza-se abaixo delas. Esses dois tipos de epitélios se juntam na junção escamo-colunar (JEC).



Conhecendo o Vírus 

Como já citamos no post anterior (clique aqui), o desenvolvimento do câncer de colo uterino é silencioso e lento, causado pelo Papilomavírus Humano (HPV). O HPV é um vírus com DNA circular de fita dupla, sem envelope lipídico. Ele esta relacionado com tumores benignos como o condiloma acuminado e tumores malignos, incluindo colo de útero, vulva, vagina, pênis, ânus, base da língua, orofaringe e pele. 

Fisiopatologia

O desenvolvimento do colo uterino feminino começa ainda na adolescência, no início do período reprodutivo com a manifestação dos hormônios esteroides. Com a manifestação desses hormônios a endocérvice se desenvolve e acontece uma eversão do epitélio colunar, ou seja, um pedaço da endocérvice fica do lado de fora do útero, e com isso é exposto a acidez vaginal e diversos outros fatores de irritação. É nesse momento da puberdade também que muitas meninas, inicia-se sua vida sexual, e com isso também leva a irritação desse epitélio tão delicado e fino. Com a irritação desse fino epitélio, como um mecanismo de escape a essas irritações, as células de reserva se proliferam e formam um epitélio escamoso, tentando imitar o epitélio da ectocérvice. Esse processo de transformação é chamado de metaplasia. 

A metaplasia predispõe o colo do útero a infecções por HPV, sendo adquirido principalmente pelo ato sexual e para que possa se multiplicar eles precisam de células com atividade celular mitótica alta. Como as células superficiais da ectocérvice são pouco ativas, elas protegem o colo uterino dessa infecção viral, porém o vírus consegue infectar facilmente as células metaplásicas, então quanto maior a metaplasia, pior e menor proteção contra o vírus. 

Quando o vírus entra nas células ele perde o envoltório lipídico, reativa o ciclo mitótico e inicia a transcrição do seu próprio DNA. Os primeiros genes transcritos recebem a letra E - Early (formados por genes E1, E2, E3, E4, E5, E5 e E7) e os últimos de L - Later (formado por genes L1 e L2). Cada gene dará origem a um RNA, que por sua vez dará origem a uma proteína. Os genes E1 está ligado com a replicação viral e o E2 com a transcrição e replicação, E4 com a maturação viral e alteração da matriz intracelular. O gene E4 é o principal responsável pela alteração celular vista no microscópio no exame de Papanicolau, ele tem como característica formar coilocitose (halo em volta do núcleo da célula). Os genes E5, E6 e E7 estão envolvidos na transformação celular. O gene E6 reativa o ciclo celular da célula do hospedeiro, estimulando a degradação da P53 (importante gene supressor tumoral que tem várias funções na célula, entre elas parar o ciclo celular em casos de erro no DNA). Além disso o gene E6 também ativa a telomerase e o gene C-myc (um dos genes reguladores e proto-oncogenes que codificam fatores de transcrição) estimulando a mitose, aumentando a pré-disposição ao câncer. .

Os genes E7 estimula a proliferação a partir da degradação da proteína retinoblastoma (pRb) e interfere também em várias proteínas ligadas ao reparo do DNA. E por fim, o gene L1 e L2 produzem proteínas do capsídeo viral, formando novos vírus prontos para infectar outras células. Esses fatores podem gerar uma proliferação celular descontroladas, gerando tumores benignos com pouca capacidade de invasão dos tecidos, pois são contidos pelo sistema imune e por proteínas que induzem as células defeituosas a apoptose. Um exemplo de tumor benigno é o condiloma. Para se tornar um carcinoma invasor, um tumor maligno, as células precisam acumular várias mutações para poder incapacitar o sistema imune, impedir apoptose e produzir metaloproteinases, que são proteínas relacionadas ao poder invasivo do tumor. Por isso que desde a infecção pelo vírus até o estabelecimento da lesão cancerosa, o processo pode levar em torno de 10 a 15 anos. Por isso é extremamente importante diagnosticar o problema precocemente, antes mesmo de surgir o câncer, com o exame de rastreio: Papanicolau.





Fonte: Ministério da saúde e O Papilomavírus Humano: um fator relacionado com a formação de neoplasias (artigo científico). 





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